Última alteração: 2022-01-22
Resumo
Será apresentada uma parceria realizada durante a quarentena de 2020, feita entre dois grupos instrumentais, o Violões da UFRJ e a AMC (Associação do Movimento de Compositores da Baixada Fluminense). Esta parceria se deu através da composição inédita “Choro e Esperança”, do compositor Luis Barcelos. Instrumentos como bandolim, cavaquinho, violões de 6 e 7 cordas, bem como flauta, clarinete, tamborim, pandeiro e cajón estão presentes na interpretação da composição. Como se trata de uma composição no estilo “choro”, sabe-se que o rigor de se tocar estritamente o que está na partitura de uma música erudita, já não é tão determinante aqui. A partitura continua sim sendo uma importante referência, permitindo inclusive que os músicos toquem a distância, cumprindo uma função informativa sobre os fenômenos musicais, porém, em linguagens de músicas populares, há um alto nível de liberdade interpretativa, onde, por exemplo, cada vez que o tema é apresentado, ele é tocado de um jeito diferente, alongando a duração de uma nota e encurtando outra e até mesmo adicionando notas, ocasionando assim em diferenças interpretativas que vão criando mais interesse musical para o ouvinte. Dessa forma, tentamos aplicar esse conceito de musicologia audiotátil, onde se estabelece que através de vivências e experiências de cada individuo, haverá uma resposta sensório-motora ou psicocorpórea que fará com que ele internalize a escrita musical (a partitura), e partir dali, passe a tocar o que tem na memória, havendo assim um “apagamento” da escrita, onde esta passará a não ter mais relevância. O que o músico terá, então, é uma imagem fina criada pela sua memória motora, como, no caso do violão, a digitação de mão esquerda e mão direita, qual timbre usar, em qual região dedilhará as cordas. No caso de “Choro e Esperança”, observa-se que o compositor deixa escrito somente a cifra alfanumérica e dá total liberdade para os músicos improvisarem o ritmo que quiserem. Estas “lacunas em branco” se tornam então um espaço de criação, onde, a partir de sua vivência, cada músico poderá chegar em resultados completamente diferentes, partindo de um referencial em comum que é a partitura.