ANPPOM, Comunicações Artísticas

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Dialogias entre duas composições autorais e elementos da musicalidade mineira
Klesley Bueno Brandão, Victor Rocha Polo

Última alteração: 2022-01-03

Resumo


Para essa comunicação artística elaborou-se um recital de música instrumental para formação em duo (violão e trompete), no qual apresenta-se quatro músicas. Duas composições dos integrantes do duo: Pé em Minas, composição do violonista, e Música da Larinha, do trompetista, ambas baseadas em propostas estéticas que circundam as produções musicais do movimento musical mineiro denominado Clube da Esquina. As outras duas músicas aqui apresentadas são composições de Toninho Horta (1948) em parceria com Ronaldo Bastos (1948): Dona Olímpia, e Viver de Amor, ambas interpretadas na voz de Milton Nascimento (1942), a última no LP Geraes (1976) e a primeira no Clube da Esquina 2 (1978). Partindo das reflexões elaboradas pelos pensadores do Círculo de Bakhtin, elegeu-se a noção de Dialogia para apontar possíveis relações entre as composições dos autores XXXX e XXX e as de Toninho Horta e Ronaldo Bastos, e também para inferir sobre algumas das bases que alicerçam a proposta musical do duo, que busca evocar uma sonoridade que se aproxime daquela advinda da musicalidade mineira. Dialogia aqui se refere ao caráter que subjaz toda e qualquer forma de enunciado que, a partir das proposições bakhtinianas, se comporta sempre como uma resposta a outros enunciados e suscitam respostas. Esse caráter responsivo não se limita apenas a enunciados verbais, ou seja, ocorre independentemente de qual sistema simbólico seja utilizado para a materialização de dado enunciado. Assim, parte-se da concepção da música enquanto uma possível forma de enunciação por seu caráter simbólico/sígnico. A partir da noção de dialogia, pode-se averiguar nessa comunicação a forte influência da musicalidade mineira em ambos os performers que, pela paixão que têm pelo Clube da Esquina, faz com que seus processos composicionais entrem em relação dialógica com a sonoridade proposta nessa estética musical. No plano estrutural que perfaz a parte harmônica de suas composições, nota-se o uso de acordes que poderiam ser pensados como acordes debussyanos, pelo fato de serem utilizados não a partir de uma função tonal preestabelecida, mas sim pela sonoridade que oferecem em determinados contextos. Outra questão diz respeito ao constante uso de melodias que são confeccionadas a partir das extensões dos acordes nos quais são circunscritas. No plano performático evidencia-se uma forte relação dialógica nas levadas de violão empregadas pelo autor/violonista XXX que em sua pesquisa de doutorado investiga o violão brasileiro. Destaca-se que três das composições aqui apresentadas são estruturadas sobre a levada da bossa nova, nas quais o violinista do duo buscou trazer à tona elementos idiomáticos característicos das levadas bossanovistas empregadas por Toninho Horta. As relações dialógicas também podem ser vislumbradas nas variadas inflexões melódicas, agógicas e lirismo empregadas pelo trompetista/autor XXXX na busca de evocar sonoridades presentes nas interpretações de Milton Nascimento. Em seu doutorado, uma das problemáticas que o trompetista do duo investiga, tangencia a questão de como a musicalidade de dado indivíduo, entendida como produto de suas relações dialógicas e que passam a integrar sua psique através de suas vivências, se manifesta na esfera estilísticas na performance. Ambos autores são bolsistas da CAPES/PROEX.

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