ANPPOM, Comunicações Artísticas

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O tempo musical em obras contemporâneas para piano
Maurício Zamith Almeida, Acácio Tadeu de Camargo Piedade

Última alteração: 2022-01-22

Resumo


Esta comunicação-recital tem como fio condutor a performance e o tempo musical na música dos séculos XX e XXI, tema do projeto de pesquisa conduzido por Maurício Zamith (UDESC), intérprete e primeiro autor deste trabalho. É composta por três obras que ilustram e se enquadram nas discussões sobre este assunto.

O programa é aberto pelo prelúdio Le Nombre Léger, de Olivier Messiaen, cuja obra musical e teórico-analítica foi central nas discussões sobre tempo musical na música do Séc.XX. Considerados a obra inaugural do compositor, os Huit Préludes foram concluídos em 1929. O terceiro prelúdio da série, Le Nombre Léger, antecipa, como sugere o título, um conceito caro ao pensamento rítimico-temporal de Messiaen. Trata-se de uma unidade de referência duracional muito breve, unidade de valor, a partir da qual, por processos de adição, surgem durações e figurações rítmicas mais amplas.

A segunda obra, Quasiment Nuage, foi escrita pelo compositor Acácio Piedade (UDESC), co-autor deste trabalho, em homenagem a Claude Debussy. Foi composta no ano de 2018, centenário da morte do compositor francês, por encomenda do intérprete e primeiro proponente desta Comuicação-Recital, decorrente da colaboração entre os projetos de pesquisa do compositor e do intérprete. A obra se fundamenta na idéia de que a modelagem do tempo era uma das características do compositor francês, o que se pode verificar nas constantes flexibilizações dos tempi. Em Quasiment Nuage se alternam o espírito do primeiro Debussy - de inspiração wagneriana, os arabesques funcionando como extensores do tempo percebido - e elementos imaginados como sons de um Debussy futuro, explorando aspectos de linguagens mais atuais. A apresentação de Quasiment Nuage no XXXI Congresso da ANPPOM será a estréia mundial da obra, que também está em fase de gravação em CD, financiado por órgão de fomento à pesquisa.

A Comunicação-Recital finaliza justamente com uma composição cujo fluxo conduz à dissolução: Pralâya, de Luigi Antônio Irlandini (UDESC). O termo sânscrito que dá nome à obra refere-se ao processo de reabsorção do universo no Todo não manifesto ao final de um ciclo cósmico, segundo a cosmologia hindu dos Purânas. A composição Pralâya ilustra esta reabsorção através de um movimento espiral inexorável em direção ao próprio centro. Este movimento é o resultado de um processo gradual e contínuo de contração do espaço harmônico e de aceleração do fluxo rítmico. Ritmicamente, a peça se resume num moto continuo que percorre o total cromático ascendente e descendentemente, e que vai se acelerando progressivamente, à medida em que o espaço harmônico se torna mais estreito. São nove etapas (ou curvas na espiral) de aceleração, cada uma resultando num tempo (andamento) mais rápido. Composta em 1988, Pralâya é a primeira obra na qual Luigi Irlandini trabalha o conceito de devir espiral em música, temática que se tornaria, a partir de então, recorrente em seu trabalho como compositor e pesquisador.


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