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O estudo do monorritmo: a trajetória do mensageiro. Primeiro movimento – A partida: encontro com Ogum. Ano de composição: 2021.
Rafael Souza Palmeira

Última alteração: 2022-01-03

Resumo


Este trabalho compreende o primeiro movimento de peça/estudo para percussão solo, baseada em atividades rítmico-sonoras próprias do candomblé Ketu. Produzida a partir de uma configuração instrumental híbrida - que agrega instrumentos, peças e técnicas características da música do candomblé e do instrumento bateria -, a obra é denominada “O estudo do monorritmo: a trajetória do mensageiro”; nome que faz alusão a conceitos propostos por Joseph Campbell, em seu trabalho “O herói de Mil faces” (CAMPBELL, 2007). Grosso modo, Campbell explora semelhanças existentes entre diferentes personagens mitológicas, religiosas e históricas, suas trajetórias e ciclos. No caso da peça cujo movimento é aqui apresentado, o “herói” é substituído por “mensageiro” - característica atribuída ao Orixá Exu, “intermediário entre os homens e os deuses” (VERGER, 2018, p. 82). Assim, toda a obra tem como referência principal o toque Vassi, ritmo que, além de tocado para outras divindades, é característico do Orixá Exu (PALMEIRA, 2018; A ORQUESTRA, 2011). Em cada movimento, o referido ritmo é combinado com outro, que por sua vez é característico de outro Orixá, que não Exu; esta combinação, entretanto, assume uma exposição cujas estruturas e características rítmicas do Vassi predominam -daí a nomenclatura “monorritmo”, alusão a “monomito”, conceito apresentado também por Campbell na supracitada obra. No caso do movimento apresentado neste trabalho, o toque Vassi é combinado com toque característico do Orixá Ogum, ritmo denominado Aderé, ou Toque cortando para Ogum, ou mesmo Ogum Vassi, (CRUZ, 2020; PASSOS, 2020; A ORQUESTRA, 2011).  O movimento se inicia com uma exposição do toque Vassi. Na sequência, parte das atividades rítmicas são repetidas, desta vez associadas com elementos próprios do ritmo dedicado a Ogum. Cabe ressaltar que ambos os ritmos compartilham a mesma subdivisão (ternária, com quatro tempos) e o mesmo padrão rítmico no que se refere às atividades características dos instrumentos metálicos, idiofones; considerando as peculiaridades de cada ritmo, as atividades do toque dedicado a Ogum foram retratadas em estruturas rítmicas com o dobro de valor, quando comparadas às estruturas do Vassi. Exemplificando, se o Vassi for interpretado em compasso de fórmula 12/08, as atividades atribuídas ao ritmo característico de Ogum estão retratadas a partir das semicolcheias -sextinas. O terceiro momento apresenta uma relativa estabilidade, quando padrões de ambos os ritmos estão intercalados, em diferentes momentos. Finalizando, atividades do trecho inicial são retomadas, tendo como acréscimo elementos que absorvidos neste diálogo entre os elementos sonoros de ritmos dedicados aos Orixás Exu e Ogum. Ainda inspirado na citada obra de Campbell, especificamente na parte I de sua obra (“A aventura do herói”), este movimento é denominado “A partida: encontro com Ogum”.

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