Este artigo visa demonstrar a aplicação composicional da ferramenta intertextual de Harold Bloom (2002) denominada kenosis. Os fundamentos dessa ferramenta e as sugestões de sua aplicação no campo musical segundo Coelho de Souza (2009) e Korsyn (1991) vão, na nossa concepção, ao encontro dos princípios da metodologia analítico-composicional da Modelagem Sistêmica, segundo XXXX (2018) e Mesquita (2018). Partindo da hipótese de que essa metodologia pode ser eficaz para a efetivação da kenosis, planejou-se uma nova obra a partir da modelagem sistêmica de Fanfare, primeiro movimento de Musiques pour “Le Roi Lear”, de Claude Debussy. Nessa modelagem, determinadas estruturas dessa obra foram reveladas por meio de uma análise sob a perspectiva de vários parâmetros musicais e usadas como arcabouço para o planejamento da nova obra. Dentre outros aspectos, o preenchimento das estruturas com material novo proporcionou sua mudança de contexto determinada pela kenosis. Alterações em aspectos propositalmente não declarados no modelo sistêmico também influenciaram na mudança do contexto. A intertextualidade oferece um grande potencial para a criação de novas obras, pois oferece pontos de partida lógicos e subsídios para a criatividade e implementação da identidade do compositor, bem como revela os procedimentos criativos dos compositores predecessores.