Distintas narrativas em diferentes temporalidades são unânimes em afirmar que a participação de artistas, especialmente músicos, foi fundamental para a vitória do movimento abolicionista, considerado o primeiro e um dos mais importantes da história brasileira. Narrativas no pós-abolição, no entanto, passaram a produzir listagens díspares dos artistas ativistas invisibilizando uns, marginalizando outros ou assegurando atuações supervalorizadas aos representantes musicais da elite. Pouco se escreveu, todavia, sobre o repertório acionado naquela conjuntura. A presente comunicação, parte de uma pesquisa mais ampla, revista o passado musical do movimento abolicionista, particularmente o período inicial da década de 1880, nas chamadas Conferências Emancipadoras. Ao reinstalar essa vanguarda musical, busca-se entender como repertórios distintos foram acionados para ampliar a participação popular na campanha. Para isso, procedeu-se ao levantamento dos indivíduos e repertórios divulgados nos periódicos cariocas, seguindo a atuação dos músicos elencados, estabelecendo filiações artísticas, opções no campo musical e cotejando as informações com novas fontes documentais de forma a desvendar parcialmente aqueles corpos, vozes, criações e opções estéticas. Tratando-se de uma pesquisa interdisciplinar, as bases metodológicas situam-se no campo da historiografia e o consequente levantamento de fontes primárias e secundárias, e da história da arte e da musicologia histórica, capazes de orientar contextos e produzir análises musicais articulando-as no campo cultural. O repertório criado, arranjado ou performado nos eventos e destacados na presente comunicação, ainda que fortemente apoiado no romantismo europeu, apontam opções singulares de seus principais performers.