ANPPOM, XXXIII Congresso da ANPPOM

Tamanho da fonte: 
O funk lésbico: análise interdisciplinar de uma etnografia sobre sonoridade, poética e corpo
Raquel Mendonça Martins

Última alteração: 2023-09-26

Resumo


Resumo.

Este trabalho deriva de minha pesquisa sobre um recente e restrito desdobramento do funk: o funk lésbico, que começou a circular na cidade de São Paulo por volta de 2017. Trata-se de um estilo musical caracterizado por padrões sonoros, melódicos e rítmicos, cuja narrativa enfatiza o prazer e a autonomia do corpo feminino, especificamente, o lésbico. As letras desses funks se constituem de uma poética dos palavrões que, por sua vez, estimulam o movimento do corpo por meio de coreografias sensuais carregadas de significados. Estes funks são tocados em festas exclusivas para o público lésbico e que ocorrem no centro de São Paulo. O objetivo da pesquisa é investigar modos pelos quais estes funks desencadeiam processos de ressignificação de estereótipos originados de homofobia e misoginia, potencializando a ressignificação de um corpo que subverte a abjeção que lhe foi socialmente imposta, para se tornar corpo-político, ou corpo-processo. Para fundamentar teoricamente esta análise, foi preciso recorrer a diferentes áreas e subáreas: música, antropologia, sociologia, etnomusicologia, e linguística. A partir do cruzamento desses campos, foi possível compreender o funk lésbico como uma expressão musical formada por diversos processos subjetivos e externos que estão em constante transformação e que ocupam e movem os corpos lésbicos. Tanto a sonoridade ruidosa quanto a poética dos palavrões, causam incômodo na sociedade ao mesmo tempo em que engajam milhares de jovens nesse fazer musical. O estranhamento provocado pelo funk, com suas letras e coreografias, se origina da tensão entre corpos que buscam afirmação e a sociedade que os recrimina.

 


Texto completo: PDF