Última alteração: 2022-09-09
Resumo
As Danças Características Africanas de Heitor Villa-Lobos e a Suite Africana do compositor português Frederico de Freitas apresentam no seu paratexto um vínculo imediato: a menção ao continente africano. Tal referência evoca um cenário imaginativo no qual dois compositores não africanos se propõem a retratar musicalmente um “outro” mais ou menos conhecido. Assim, a distância geográfica e cultural entre o espaço-tempo de composição das obras e o continente africano (na sua imensa variedade) acarreta numa representação não informada, generalizada, estereotipada e conveniente de uma ideia de “África”. No entanto, o contexto que envolve Villa-Lobos e Frederico de Freitas em lados opostos do oceano, apesar de essencialmente diferentes, se relacionam na tentativa de construção e manutenção de um nacionalismo a nível artístico. Portanto, no centro das convergências entre as Danças e a Suite, encontra-se o contexto nacionalista no qual ambas estão imersas e, assim, define-se o paradoxo no qual assenta esta análise: a representação da “africanidade” (do outro) como expressão do “nacional”. Em visto disso, através do conceito de transtextualidade, como definido por Gérard Genette (1982), e da Teoria dos tópicos, neste trabalho pretende-se estabelecer um olhar comparativo entre as obras esclarecendo convergências e divergências, refletindo sobre a representação musical de uma “África” e considerando as diferentes relações que o Brasil e Portugal mantinham com o continente.