Entre os séculos XVI, XVII e XVIII, o universo luterano fomentou a produção, publicação e difusão de diversos tratados dedicados à sistematização de poéticas musicais, cada uma representativa das formas válidas de produção musical de seu próprio tempo e lugar. Justificadas por demandas de natureza religiosa, política e educacional, essas poéticas constituíam-se como instrumentos de estado, reguladores das possibilidades de produção e interpretação do repertório referenciado, dedicado à promoção do bem comum e à manutenção das práticas sociais e da ordem social que legitimavam o próprio repertório produzido e seus usos na medida em que eles as alimentavam e as reafirmavam como práticas e ordem válidas. Em cada momento histórico e contexto cultural, os autores dessas poéticas lhes atribuíram usos que orientaram, como finalidade, a elaboração de seus textos. Partindo desses pressupostos, na forma de um estudo de caso, esta comunicação dedica-se à identificação e discussão dos usos propostos por Joachim Burmeister ao seu Musica Poetica (1606), tratado representativo dos primórdios dessa tradição, a fim de contribuir para a compreensão de suas ideias, superação de anacronismos e validação de suas possibilidades de uso hoje, como meio de acesso à música por ele referenciada.